quinta-feira, 25 de outubro de 2007

CORTAR DOBRADO

Um dos meus últimos devaneios é ficar imaginando como seria bom se o dia tivesse 48 horas...
Poderia dormir além das minhas parcas 5, 6 horas diárias...
Trabalharia mais e diminuiria o trabalho que se acumula em minha mesa e por todo o entorno da minha sala...
Faria todas aquelas coisinhas, futéis ou necessárias, que sempre deixamos de lado com a desculpa de não ter tempo (no meu caso, não é desculpa e não venham me dizer que 'tempo é a gente que faz'!!!), tais como, academia, aula de dança, cursos e 'pos-es' aos montes, francês, etecetera, etecetera.
Visitaria Minas com mais frequência porque, com 48 horas-dia, as distâncias pareceriam menores. Até o nosso "é logo ali" poderia ser digno de confiança.
Daria para encontrar mais os amigos, leria os livros já amarelados de tanto aguardar e por aí vai...

Mas não! O Criador, provavelmente de forma aleatória, optou pelo número 24 e pronto... daqui a pouco já se acaba o meu dia!

24, será que...?

domingo, 21 de outubro de 2007

Quando não há nada a se dizer, vale citar

"... Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.
Assim tem sido sempre a minha vida,
e assim quero que possa ser sempre
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar."

(Alberto Caeiro)

É a vida, é a vida...

Como é gostoso flagrar nas pessoas aqueles sorrisos que brotam, assim, não sabemos de onde, nem por quê!
Pode ser em uma fila de supermercado, dentro do metrô, nos passeios da calçada...
O sujeito está ali, com o olhar perdido e, de repente, eis que surge, de fora pra dentro, a expressão máxima do ser humano...
Neruda, que sabe das coisas, disse certa vez: "Tira-me o pão, se quiseres, tira-me o ar, mas não me tires o teu riso!"

Porém, mais gostoso do que captar a cena nos desconhecidos é, obviamente, se surpreender também assim... como quem acaba de ver o tal passarinho verde!

Eita!

sábado, 6 de outubro de 2007

SUBÚRBIO



"Lá não tem brisa
Não tem verde-azuis
Não tem frescura nem atrevimento
Lá não figura no mapa
No avesso da montanha, é labirinto
É contra-senha, é cara a tapa". Chico

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

MAGMA

Ah, o Centro! Com suas pastilhas portuguesas acaba com o salto de qualquer mulher.

Ah, o Centro! Com seus rumores de buzinas, silvos (longos, sempre), urros de ambulantes e etc., acaba com o estado de ausência de qualquer catatônico.

Ah, o Centro! Com seu fumacê de churrasquinhos e acarajés e monóxido de carbono, acaba com a fragrância mais francesa que possa existir.

Ah, o Centro! Com suas gentes em formigueiro, acaba com a pontualidade de qualquer inglês.

Ah, o Centro! Com suas boutiques sempre em promoção, acaba por despertar o consumo na mais avarenta das judias.

Ah, o Centro...

Uma vantagem: face a tanta miscelânea, hoje, o meu desejo súbito, repentino, quase grávido mesmo de comer abacaxi com melão foi facilmente satisfeito.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

CTRL C + CTRL V

"Muito se louvou a arte do encontro, mas poucos louvaram a arte do adeus. No entanto, não há gesto tão profundamente humano quanto uma despedida. É aquele momento em que renunciamos não apenas à pessoa amada, mas a nós mesmos, ao mundo, ao universo inteiro. O amor relativiza; a renúncia absolutiza. E não há sentimento mais absoluto do que a solidão em que somos lançados após o derradeiro abraço, o último e desesperado entrelaçar de mãos. Arrisco mesmo a dizer: só os amores verdadeiros acabam. Os que sobrevivem, incrustados no hábito de amar, podem durar uma vida inteira e podem até ser chamados de amor mas nunca foram ou serão um verdadeiro amor. Falta-lhes exatamente o Dom da finitude, abrupta e intempestiva. Qualidade só encontráda nos amores que infundem medo e temor da destruição. Não se vive o amor; sofre-se o amor. Sofre-se a ansiedade de não se poder retê-lo, porque as nossas cordas afectivas são muito frágeis para mantê-lo retido e domesticado como um animal de estimação. Ele é bravio e despedaça-nos a cada embate e por fim extingue-se e extingue-nos com ele. Aponta numa única direção: o rompimento. Pois só conseguiremos suportá-lo se ocultarmos do nossos sentidos o objecto dessa desvairada paixão. Mas não se pense que esse é um gesto de covardia. O grande amor exige isso. O rompimento é sua parte complementar. Uma maneira astuciosa de suspender a tragédia, ditada pelo instinto de sobrevivência de cada um dos amantes. Morrer um pouco para se continuar a viver. E poder usufruir daquele momento mágico, embebido de ternura, em que a voz falseia, as mãos abandonam e cada qual vê o outro afastar-se como se através de uma cortina líquida ou de um vitral embaçiado. Há todo um imaginário sobre os adeuses e as separações, construído pela literatura e pelo cinema. O cenário pode ser uma estação de comboios, um aeroporto (remember Casablanca), uma estaçao de camionagem. Pode ser uma praça ou uma praia deserta. Falésias ou ruínas de uma cidade perdida. Pode ate estar a chover ou a nevar, mas o vento é imprescindível. As nuvens devem revolutear no horizonte, como a sugerir a volubilidade do destino. Os cabelos da/o amada/o, longos e escuros, fustigam de leve os seus lábios entreabertos. Há sutis crispações, um discreto arfar de seios. E os olhos, ah!, os olhos... A visão é o último e o mais frágil dos sentidos que ainda nos une ao que acabamos de perder. Uma grande dor, uma solidão cósmica, um imenso sentimento de desterro. Que se curam algum tempo depois com um amor vulgar, desses feitos para durar uma vida inteira..."