Nada como uma mensagem antiga, achada assim, inexplicavelmente, para restabelecer o ego de uma mulher em meio a um abandono desordenado.
"Eu fiquei ali, parado. Olhar distante, coração apertado, respiração ofegante. Não saía da minha mente a imagem de seu rosto moreno, seu sorriso branco, seus cabelos negros, seus olhos fortes. Acho que ela nunca me pareceu tão bonita quanto no seu último olhar, quanto na última vez que abriu aquele sorriso para mim.
E fez-se um silêncio, um silêncio tão grande quanto a ausência que chegou tão de repente, apesar de tão certa quanto a morte ou a dor que eu sabia que viria com ela. O ônibus a levava para uma distância tão grande que nenhum amor consegue superar, transformava em memória o que tinha sido chama, nostalgia do que tinha sido ardor.
Mas o silêncio não vinha do mundo, vinha de mim. No rádio a canção tentava me dizer alguma coisa; mas eu não ouvia nada, ou melhor, quase nada. Por vezes uma ou outra frase conseguia romper a barreira que se ergueu entre mim e o mundo, me invadindo e me ferindo como se fosse uma lâmina quente.
Uma dessas frases dizia: “a vida não para”. Mas parece que o mundo parou naquele instante. O sol brilhava, esquentava o teto do meu carro. Mas eu permaneci ali parado, anestesiado, quieto, sem vontade de abrir o vidro e permitir que o vento tocasse a minha face.
Não, eu não poderia deixar que o vento levasse um pouco da minha dor, que tivesse a ingênua pretensão de aliviar um pouco aquela ausência, de me permitir algum contato com o mundo exterior. Me recolhi para dentro de mim e fui buscar nas lembranças aqueles instantes que foram só meus e dela, que não quero compartilhar com ninguém.
Só ela poderia quebrar o meu silêncio, me trazer de volta à superfície e substituir o seu mundo de memórias pelo mundo real das sensações. Quando já a tinha perdido de vista, depois de alguns minutos, me chega uma mensagem que diz: “vou te levar para sempre, no meu coração”. Escorria uma lágrima pelo meu rosto e eu, olhando para a vida, tentava dizer, sem conseguir: Adeus Juliana."
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Hum,uma declaração de amor!!!
Nada melhor que a lembrança de um amor, mesmo que ele não seja mais,para nos lembrar de que ainda vale a pena.
Postar um comentário